No verão vou sempre à minha aldeia, de férias. Jovens garridos deambulam alegres pelas ruas, as crianças correm e gritam. E eu, que não faço parte de nada daquilo… sou um simples pastor de almas, e ninguém me agradece!
Antes do jantar recolho-me no quarto a rezar.
É então que ela bate ao de leve na porta e entra, com sorriso nos lábios, venho ver o meu querido padre. Lábios molhados, olhos brilhantes, os mamilos recortados no vestido de algodão fino parecem cornos de um touro, em pontas, investindo para mim!
Põe-me a mão no ombro e dá-me um beijo húmido na face. Nesse duplo contacto fico em brasa. Não vou resistir! Que pecado!
Mas resisto sempre, e lá longe, na cozinha, entre o barulho dos pratos e das panelas a minha mãe grita, Amaro! Venham prá mesa!
Então, ela dá meia volta e sai, deixando ver à transparência, sobre os seus glúteos firmes, o triângulo perfeito.
À mesa evito o seu olhar, respondo mal às perguntas que me faz sobre o Porto, sobre a paróquia, e vamos todos ao centro da vila ver os preparativos para a senhora da agonia. A Senhora da minha agonia!
Adeus, vou deitar-me, digo aos meus pais e irmãos. Regresso ao quarto fora de mim. Procuro nervosamente a imagem de Nossa Senhora de Fátima que trago no fundo da mala. É de plástico fosforescente, ponho-a encima da mesa de cabeceira sob a luz intensa do candeeiro, durante um minuto. Um minuto que me parece uma eternidade…
Apago por fim a luz. A imagem luminosa da virgem paira no escuro vazio do quarto, como que por magia. Masturbo-me com vigor derramando o esperma abundante sobre a estátua da virgem. Depois, apreço-me a limpar e envolver o bocado de plástico nos lenços de papel que tenho à cabeceira, e escondo tudo no fundo da mala, escondo as provas do meu pecado.
Adormeço profundamente, num sono agitado e febril, estou no confessionário, com ela do lado de fora, faz-me as perguntas do jantar… Não resisto e conto-lhe o meu drama, conto-lhe tudo, com todos os pormenores, e espero que ela saia esbaforida dali e não volte a aparecer na minha frente.
Porém outra coisa acontece, faz-se um silêncio de morte, durante um minuto, que me parece infinito, e ela diz: És um santo! Mas não esperes que alguém te agradeça por isso.